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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

"Vários jornais, ainda que as notícias sejam as mesmas"

Se tem algo que deveria ser hábito de todo indivíduo que se pretende cidadão, este algo é o costume de acessar mais do que um meio de informação; seja noticiário de tevê, seja de rádio, seja impresso. O que já foi considerado como "uma imensa perda de tempo", até por vários interlocutores deste blog, hoje se tornou um instrumento fundamental para uma formação que se pretende crítica e cidadã.

Atento, pois, a duas importantes notícias da última semana, foi interessante comparar a forma como a Rede Bandeirantes e a Rede Globo abordaram dois temas bastante atuais e com grande relevância social. Trata-se da pesquisa de intenções de voto para a Presidência da República e da percepção dos favelados acerca de seu meio social.

Como é sabido, a Globo defende interesses que vão de encontro ao que pretende o governo atual, demostrando uma oposição que, por vezes, se pode chamar até de descarada. Por conta de tal bandeira ideológica, a pesquisa de intenções de voto trouxe como informação principal a frase "a última pesquisa Ibope mostra que a presidente Dilma parou de crescer". A notória queda de Aécio Neves, principal opositor a Dilma e nome preferido pela Globo, sequer foi citada. Na Band a abordagem foi mais honesta, mostrando os números de todos os candidatos - inclusive que Dilma venceria no primeiro turno em qualquer cenário - e apresentando que "a presidente foi a única que não caiu". Entre "parar de crescer" e ser "a única que não caiu" existe uma diferença abissal, como deveria ser claro, embora as duas coisas possam ser, sem qualquer crise, apresentadas como verdade.

Ainda comparando as duas emissoras, a percepção dos moradores de comunidades pobres no Rio de Janeiro foi tida como extremamente positiva na última edição do semanário Fantástico, sendo que a mesma percepção dos favelados apareceu no Jornal da Band do dia seguinte como algo de extremamente negativo. Visões radicalmente opostas, então, foram colocadas diante dos cidadãos, sem que se pudesse afirmar categoricamente quem estava apresentando o que se quer como mais próximo da verdade.

Na Band, Dilma venceria no primeiro turno, é a única que não caiu e os favelados não suportam mais a violência dos traficantes e da polícia, chegando tais moradores a interditar os acessos às suas comunidades, na intenção de chamar a atenção dos gestores públicos e da mídia para sua degradante situação. Na Globo, Dilma parou de crescer - "desaparecendo" a queda de Aécio - e os favelados adoram seu ambiente de moradia, "não precisando nem sair da favela para buscar diversão, pois lá é o melhor lugar do mundo, tendo as pessoas mais felizes do que no asfalto".

Em ano eleitoral e em tempos de rolézinhos de "favelados felizes" no asfalto da "classe média infeliz", será interessante buscar as razões para que tais crenças sejam disseminadas como verdade pelos meios de comunicação de massa, já que estes são os principais responsáveis por formar a opinião de um povo que precisa, mais do que nunca, de iniciativas como a do Observatório da Imprensa, a fim de que um único veículo (de informação) não conduza a todos, e em alta velocidade, para os quintos dos infernos.

liberdade, beleza e Graça...