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Graduado em Artes Cênicas, Teologia e Ciências Sociais. Mestre em Sociologia e Direito pela UFF, Doutor em Sociologia pela UERJ e Pós-doutor em Sociologia Política pela UENF. Pesquisador de Relações Raciais, Sociologia da Religião e Teoria Sociológica. Professor do Instituto Federal de São Paulo.

terça-feira, 20 de julho de 2010

"Edir Macedo e a musicalidade teopoética de Vander Lee"

Estava lotado o Maracanã. Nem na apresentação de Frank Sinatra o público tinha sido tão grande, disseram muitos, e parece que com razão. Mas a Rede Globo ignorou completamente o evento, não citou qualquer número e nenhuma nota foi dada, pois havia uma briga - e ainda há - com a Rede Record.
Edir Macedo dirigia uma "reunião de milagres" e convocava todos os que usavam qualquer tipo de auxílio para viver - óculos, muletas, cadeiras de rodas, aparelhos de audição etc. - a abandonarem aqueles objetos todos e a receberem a cura.
A sagacidade de uma repórter fez com que perguntasse àquele líder espiritual a razão de ele incentivar as pessoas a jogarem fora os seus óculos, se ele mesmo continuava com os dele. Edir Macedo não titubeou e respondeu: "É que eu não tenho a fé deles".
Lembrei-me deste episódio ouvindo Sonhos e pernas, do cantor e compositor mineiro Vander Lee. Tal como Aonde Deus possa me ouvir e Alma nua, essa canção me traz algo de teológico. Algo de teopoético, eu diria.
Pensando na temática do discipulado, defendo que o testemunho de vida deve fugir à tese de Macedo, pois não é bom apenas falar do que se deve crer, mas é imprescindível que se viva a fé professada. Bom mesmo é ter o peito para dizer: "Quer aprender de Jesus, olhe para a minha vida". Parece bastante radical, mas se mostra muito mais correto e mais bíblico, uma vez que o grande apóstolo S. Paulo convidou aos que o seguiam, sem qualquer crise: "Sede imitadores meus, assim como eu o sou de Cristo".
Penso que, ao contrário do que queria Edir Macedo, é hora de fazer mais do que falar o que os outros devem fazer e, seguindo a teopoética de Vander Lee, ratificar Sonhos e pernas: "Olhe, não venha me mostrar o que você não vê; não venha me provar o que você não crê. Não tente se enganar". Vemos por esta frase que, ao contrário do que muitos pensam, não é aos outros que se consegue enganar em termos de fé, quando se faz o que fizeram e fazem muitos dos nossos líderes espirituais. Parece-me que é o grande Macedo que engana-se a si mesmo quando faz o que faz. Manda olharem, mas ele mesmo não vê. Tenta explicar, mas ele mesmo não crê. Afinal, foi ele mesmo que disse "não tenho a fé deles".
Apesar da lógica neopentecostal do Edir, baseada no "você pode tudo", ainda fico com a oração do nosso músico mineiro: "Ó, meu Pai, dá-me o direito de dizer coisas sem sentido; de não ter que ser perfeito, pretérito, sujeito, artigo definido".
Que possamos nós, os que devemos ser curadores d´almas, nos deixar envolver pela teopoética, como a apresentada por Vander Lee, deixando também que as pessoas não se obriguem à cura e ao impossível, mas que possam viver o milagre de ser gente, com todas as implicações - para o bem e para o mal - que isso sempre traz.

liberdade, beleza e Graça...